Embora o ato de comer acompanhe a espécie humana desde sua origem, o termo “alimento” surgiu no início do século XI. E foi apenas séculos depois, somente a partir do XVI, que a palavra passou a substituir a expressão “carne”, até então utilizada para se referir a todos os tipos de comida considerados bons para manter a sobrevivência.
Hoje, o ato de compartilhar uma refeição ganhou toda uma simbologia que vai muito além da mera ingestão de alimentos com forma de preservação da espécie. Alimentar-se em companhia de alguém proporciona uma relação de intimidade com o outro, pois envolve hábitos culturais e influencia até mesmo na organização social.
Na cultura brasileira, uma “refeição” é considerada um ato social que deve ser feito em grupo para ser efetivamente percebida como tal. Os brasileiros criaram até mesmo significados diferentes para esta ação, diferenciando o comer cotidianamente do comer em eventos especiais. Comer no aconchego do lar tem uma conotação diferente de comer fora.
Há também um caráter simbólico e ritual no hábito de convidar pessoas para jantar em nossa casa, ou no ato de “jantar fora” em determinadas ocasiões, bem como o “almoço de domingo”. Estes convites não são feitos somente para nutrir as pessoas enquanto corpos biológicos; servem, sim, para criar vínculos, alimentar e reproduzir relações sociais.
Enquanto alimento é aquilo que o indivíduo ingere para se manter vivo, a comida ajuda a definir uma identidade-de, um grupo, uma classe, uma pessoa. Também é um modo, um estilo e um jeito de alimentar-se.